O terceiro dia do Primavera Sound Porto 2025 confirmou que este é um festival marcado pela grande diversidade de estilos musicais, onde se cruzaram linguagens sonoras distintas e propostas artísticas para todos os gostos. Entre batidas electrónicas, explosões de rock e melodias pop, a noite teve como protagonistas Jamie XX, HAIM e Parcels. O cartaz contou ainda com Turnstile, Wet Leg e a lendária Kim Deal.
De acordo com um comunicado da organização, passaram pelo Parque da Cidade, ao longo dos três dias de festival, 110 mil pessoas — um número que reflete o peso crescente do evento no panorama europeu dos festivais de música.
Jamie XX
Jamie XX fechou o palco principal do Primavera Sound Porto com um DJ set que transformou o recinto numa pista de dança coletiva. Com uma seleção, onde se cruzaram batidas garage, house e techno com samples inesperados, o produtor britânico mostrou porque continua a ser um nome de referência da electrónica contemporânea.
A sua atuação, marcada por transições fluidas e um trabalho de luzes meticuloso, fez esquecer o cansaço acumulado do festival e prolongou a noite para lá do esperado.
HAIM
Antes, foi a vez das HAIM assumirem o protagonismo. As três irmãs californianas trouxeram ao Porto a sua habitual mistura de pop-rock.
Traziam uma palavra de ordem “I Quit”, o novo álbum que vão lançar já no dia 20 de junho, e do qual apresentaram esta noite “Relationships” e depois “Everybody’s trying to figure me out”.
O concerto foi de reencontro com o público em Portugal e a emoção foi mesmo verbalizada pelas irmãs Danielle, Este e Alana. “Já estivemos neste palco antes, mas hoje estou a sentir muitas emoções”. As declarações emocionadas acabaram por ser sintetizadas num “best crowd ever” à qual o público do primavera Sound Porto reagiu de forma bastante efusiva.
A festa não se resumiu ao novo trabalho e tocaram temas de todos os álbuns, incluindo “The Wire”, “Summer Girl” e “Gasoline”. A química entre as irmãs Haim continua a ser uma força imparável em palco.
Squid
A banda britânica trouxe ritmos caóticos e mudanças de tempo inesperadas que mantiveram o público em permanente estado de alerta. Ollie Judge, vocalista e baterista dos Squid liderou a atuação com uma presença carismática, alternando entre gritos viscerais e batidas meticulosamente complexas.
A fusão entre o pós-punk e os momentos de improvisação instrumental provou que a música dos Squid vive tanto da técnica como da urgência emocional.
O público reagiu com entusiasmo desde os primeiros acordes, rendendo-se ao caos controlado da banda. Temas como “G.S.K.”, “Cro-Magnon Man” e “Pamphlets” e ecoaram com força no Parque da Cidade.
Parcels
O melhor sunset de todo o Primavera Sound Porto 2025 foi dado pelos Parcels. Apresentaram um concerto dançável, com camadas de disco-funk e harmonias vocais impecáveis. O público correspondeu com entusiasmo a temas como “Tieduprightnow” e “Lightenup”, e não faltaram momentos em que os corpos se moveram em perfeita sintonia com o groove contagiante da banda. Entre a nostalgia dos anos 70 e a modernidade do seu som, os Parcels foram dos mais celebrados da noite.
Também não foram parcos em elogios: “Sempre que voltamos a Portugal, penso que é o melhor sitio para tocar! Fazem-nos mesmo sentir em casa!.
De seguida pediram licença para chamar uma convidada especial. A cantora portuguesa Maro alinhou-se com a banda, no palco, de viola na mão, para juntar a sua doce voz no tema “Leaveyourlove”.
Wet Leg
A banda britânica, formada por Rhian?Teasdale e Hester?Chambers em 2019, subiu ao palco principal num cenário que prometia irreverência. Integram a nova geração do indie rock, com influências de post?punk. Cruzam riffs de guitarras com letras humorísticas e satíricas.
Interpretaram, entre outros, temas como “Being in Love”, “Chaise Longue” e “Angelica” e fizeram o público dançar, num final de dia marcado pelo vento, que quase impunha o movimento como forma de aquecer.
Kim Deal
Kim Deal, ex-Pixies e líder dos Breeders, subiu ao palco com um alinhamento, onde a distorção suja e as melodias grunge encontraram eco junto dos fãs mais atentos à história do rock alternativo. Foi um concerto discreto mas cheio de peso simbólico.
“Estamos muito agradecidos por nos terem convidado. Temos grandes amigos aqui.”
Acompanhada de uma banda grande, que incluía secção de sopros e secção de cordas, Kim Deal trouxe dos melhores momentos sonoros deste festival. Também a acompanharam Bob e Carrie Weston, membros da banda Shellac.
Este concerto quase se pode dividir em duas partes: uma primeira dedicada à carreira a solo de Kim Deal e depois, os grandes êxitos dos Breeders. Euforia a subir de tom com “No Aloha”, “Safari”, “Do You Love Me Know” a atingir o êxtase com “Cannonball”.
A euforia conseguiu ainda subir um degrau, quando Kim Deal mencionou a existência de uma banda, os Pixies. E avançou para uma despedida em grande com “Gigantic”.
Eu.Clides
Eu.Clides tem conquistado espaço próprio na música portuguesa contemporânea. Natural de Cabo Verde, mas criado em Portugal, o músico cruza influências da world music, da música tradicional cabo-verdiana e da pop alternativa, num registo intimista e profundamente emocional.
Depois de se dar a conhecer com o single “Volta e Meia” e de colaborar com nomes como Pedro da Linha, Dino D’Santiago e Branko, Eu.Clides afirma-se como uma das vozes mais promissoras da nova geração.
Abriu o palco Porto, no terceiro dia de Primavera Sound Porto. Eu.Clides levou ao palco a subtileza e profundidade que já lhe são reconhecidas. Entre os temas do seu repertório, destacou-se “Venham mais 7”, canção que deu corpo a um dos momentos mais celebrados do concerto.
Mas a surpresa maior chegou com a apresentação de um tema inédito, ainda em processo de criação, que o músico descreveu como “muito raw“. Esta nova faixa, fruto de uma residência artística dedicada à composição do próximo álbum, foi interpretada com o apoio de João Frade no acordeão, conferindo-lhe uma textura emotiva e inesperada, num encontro entre tradição e experimentalismo.
Ao longo do concerto, Eu.Clides mostrou-se à vontade e em casa. Anunciou “Sou Ele”, tema do seu mais recente álbum, que descreveu como uma canção anti ego e anti artistas — uma afirmação da sua identidade e postura perante o mundo da música.
Horsegirl
No mesmo momento, no outro extremo do recinto, atuavam as Horsegirl, trio norte-americano de Chicago, de indie rock.
As Horsegirl conquistaram a cena alternativa com um som que mistura shoegaze, post-punk e nostalgia lo-fi. O trio, formado por Penelope Lowenstein, Nora Cheng e Gigi Reece, tem uma energia crua e autêntica que nos transporta para os anos 90 — com referências que vão de Sonic Youth a My Bloody Valentine.
Ainda assim, o público não arredou pé e a vocalista não escondeu o prazer de tocar em Portugal, país que elogiou com carinho: “aqui comemos o melhor peixe”.
Apesar do fim oficial do cartaz no Parque da Cidade, a música ainda não terminou: a nova festa electrónica de encerramento, marcada para este domingo e com Paul Kalkbrenner como cabeça de cartaz, promete uma última celebração para os resistentes. Segundo a organização, ainda há bilhetes disponíveis para este evento extra, que encerrará a 12.ª edição do festival em ambiente de rave prolongada.
O Primavera Sound Porto regressa em 2026, com datas já confirmadas: de 12 a 14 de Junho, novamente no Parque da Cidade. Depois de uma edição tão vibrante, as expectativas para o próximo ano são tudo menos modestas.
