Navegar pela costa da América do Sul em cruzeiro é como folhear um livro de postais que ganha vida. A beleza natural encontra-se com a cultura e a energia vibrante das grandes cidades.
Embarcámos em Buenos Aires, a cidade que respira tango e futebol, para atravessar o estuário do Rio Prata e desembarcar em Montevidéu, no Uruguai. Com a sua aura colonial e o aroma a “assado” no ar, foi apenas o aperitivo para o que se seguiria.
Depois, entrámos no Atlântico e seguiu-se um dia inteiro de navegação. Tempo para explorar o próprio navio e desfrutar das piscinas, espetáculos e gastronomia a bordo (saiba mais no artigo sobre o MSC Poesia).
A primeira paragem no Brasil foi em Balneário Camboriú, um oásis de modernidade e exuberância, onde a natureza e o betão convivem. Chamam-lhe o Dubai do Brasil, pela linha de arranha céus junto à beira-mar.
Seguimos para Ilhabela, a maior e que dá nome ao arquipélago. Com a sua beleza agreste e praias intocadas, revelou-nos um Brasil mais selvagem, mais autêntico. E, por fim, o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, com o seu Cristo Redentor a abençoar a baía de Guanabara, um cenário de cartão-postal que fica retido na memória.
Dois dias de navegação permitiram aproveitar o melhor do verão austral antes do regresso à capital argentina, concluindo um percurso repleto de contrastes e momentos inesquecíveis.
Mas se deixarmos os adjetivos repousar, o que é que podemos realmente contar sobre cada uma destas paragens do cruzeiro?
Nesta primeira parte da reportagem, vamos percorrer Buenos Aires e Montevidéu. Deixamos para a próxima reportagem as três paragens no Brasil.
Buenos Aires: A Alma Europeia Na América Do Sul
A capital argentina recebeu-nos depois de uma dúzia de horas de voo e, por isso, quem chega deve planear a estadia com tempo para absorver o pulsar desta cidade vibrante. Buenos Aires tem alma de tango e coração de futebol, mas é também uma metrópole marcada por uma elegância europeia, reflexo da forte influência espanhola e italiana.
O primeiro impacto é dado pelas suas largas avenidas, onde edifícios históricos convivem com espaços modernos. Os portenhos (designação dos residentes em Buenos Aires) mantêm o hábito de frequentar cafés ao longo do dia, fazendo destas paragens um ritual obrigatório. Entre conversas e jornais folheados, tomam um café cortado ou saboreiam um alfajor recheado com o tradicional doce de leite.
Ao final da tarde, a cidade reflete-se nos seus amplos espaços verdes. Nos parques, grupos de amigos e famílias reúnem-se para conviver e beber mate, a infusão feita com folhas de erva-mate, servida numa pequena cuia e sorvida por uma bombilla. Mais do que uma bebida, é um ritual social.
O Jardim da Recoleta convida à contemplação e, no meio do seu verde, ergue-se a Floralis Genérica. Esta escultura metálica gigante tem a peculiaridade de abrir as pétalas de dia e fechá-las ao anoitecer, como uma flor real que responde à luz.
Atravessámos Palermo, o bairro residencial mais próspero, onde palácios antigos deram lugar a embaixadas e consulados. A sofisticação prolonga-se até à Avenida Alvear, repleta de lojas de luxo e onde se encontra o Alvear Palace Hotel, o mais exclusivo da cidade, composto apenas por suítes e um símbolo do luxo portenho.
A cultura vibra no Teatro Colón, uma das mais importantes casas de ópera do mundo, inaugurada em 1912. A sua acústica perfeita e arquitetura imponente fazem dele um marco incontornável para os amantes das artes cénicas.
Não se pode falar de Buenos Aires sem mencionar a Casa Rosada, sede do Governo e cenário de momentos históricos da Argentina. Situada na Plaza de Mayo, distingue-se pela sua tonalidade singular e pelos detalhes neoclássicos da sua fachada, que a tornam um verdadeiro ícone urbano.
Seguimos depois para San Telmo, bairro de ruas empedradas e mercados de antiguidades, antes de chegarmos à Boca. Aqui, o colorido das casas do Caminito contrasta com o azul e amarelo da Bombonera, o estádio do Boca Juniors. Com capacidade para 55 mil pessoas, tem uma característica arquitetónica peculiar: estremece com a energia da claque, tornando cada jogo um espetáculo vibrante.
Puerto Madero é um dos bairros mais modernos e sofisticados de Buenos Aires, resultado da revitalização da antiga zona portuária da cidade. Com arranha-céus, hotéis de luxo e uma grande oferta gastronómica, destaca-se pela sua harmonia entre arquitetura contemporânea e o charme das docas restauradas. No coração deste bairro encontra-se a icónica Ponte da Mulher (Puente de la Mujer), uma estrutura pedonal desenhada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Inspirada no movimento de um casal a dançar tango, a ponte distingue-se pelo seu design futurista e pelo mecanismo rotativo que permite a passagem de embarcações.
O Bairro Chinês de Buenos Aires, localizado no bairro de Belgrano, é um pequeno mas vibrante enclave cultural que reflete a influência da comunidade asiática na capital argentina. O grande pórtico vermelho à entrada dá acesso a ruas repletas de lojas, supermercados e restaurantes, que oferecem produtos e gastronomia típicos da China e de outros países asiáticos. É um destino popular tanto para os locais como para os turistas que procuram uma experiência exótica, sem sair da cidade.
Nenhuma visita a Buenos Aires fica completa sem mergulhar na sua gastronomia. As empanadas, recheadas com carne ou queijo, são um clássico, mas o rei da mesa é o bife de chorizo, um corte suculento que faz da carne argentina uma das melhores do mundo. Para sobremesa, os alfajores de doce de leite conquistam os verdadeiramente gulosos.
E, para fechar com chave de ouro, nada como assistir a um espetáculo de tango. A sua origem é disputada com o Uruguai, mas a paixão com que os portenhos dançam não deixa dúvidas: Buenos Aires respira tango em cada esquina, num ritmo que se sente na pele e na alma.
Montevidéu: Primeira Paragem De Um Cruzeiro Pelo Atlântico Sul
A viagem de cruzeiro teve início em Buenos Aires, capital da Argentina, onde embarcámos para explorar a costa do Atlântico Sul. A primeira paragem foi Montevidéu, capital do Uruguai, mas antes de lá chegarmos, foi necessário atravessar o Rio da Prata, um verdadeiro desafio para a navegação, devido à sua pouca profundidade. O estuário do Rio da Prata impressiona: de tão largo, parece mar, mas ainda é rio.
Desembarcámos no Terminal de Pasajeros Benito Quinquela Martín, um dos principais pontos de chegada para quem visita a cidade por via marítima.
No centro da cidade, a Praça da Independência é um dos principais marcos históricos. No seu centro ergue-se a estátua de José Artigas, herói da independência uruguaia. À volta da praça, destacam-se edifícios históricos, entre eles o Teatro Solís, um dos mais antigos da América do Sul e classificado como monumento histórico. Outro monumento bem conservado é a Porta da Cidadela, construída pelos espanhóis, durante o século XVIII, para permitir o acesso à Cidadela de Montevidéu.
Uma das principais características de Montevidéu é a abundância de áreas verdes. A cidade é conhecida por ser um local agradável para se viver, e isso reflete-se na presença de muitas árvores, que no verão, formam túneis de sombra sobre as ruas e passeios. Durante o percurso, passámos pelo Palácio Legislativo, sede da Assembleia Nacional, onde ficámos a saber que no Uruguai o voto é obrigatório.
Ao contornarmos o Parque El Prado, percebemos a importância dos espaços públicos na vida dos habitantes. Nos parques, as pessoas encontram-se para conversar e partilhar um mate, a infusão tradicional da região. A cidade tem avenidas largas designadas por boulevards, ao estilo europeu, que ligam as zonas residenciais. Com uma baixa densidade populacional, nesta capital o trânsito é relativamente fluído, apesar de Montevidéu não dispor de metro nem de rede ferroviária – o transporte é exclusivamente rodoviário.
Outro local emblemático da cidade é o Estádio Centenário, situado perto do centro. Construído para o primeiro Campeonato do Mundo de Futebol, em 1930, é um símbolo do desporto no país, com capacidade para 65 mil espetadores.
Na viagem de regresso ao porto, seguimos pela Rambla de Montevidéu, a extensa marginal junto ao Rio da Prata. Esta larga avenida à beira-rio, com mais de 30 kms de comprimento, é adorada pelos habitantes, que ali caminham, praticam desporto ou simplesmente apreciam a vista. As praias de Montevidéu mantêm-se selvagens, sem concessões comerciais, permitindo uma experiência mais natural e autêntica.
Junto ao porto, encontramos um Mercado repleto de lojas de artesanato local e restaurantes onde as grandes grelhas estão sempre acesas para preparar os famosos assados (churrascos), uma das especialidades do Uruguai. A gastronomia e a hospitalidade local encerraram da melhor forma a nossa primeira paragem nesta viagem.
Seguimos viagem até ao Brasil?
*O CH Magazine agradece o apoio da MSC Cruzeiros Portugal, para a realização desta reportagem.
