Home Música & Espectáculos Concertos Sétima Legião: Uma Noite de Glória e Memórias No Casino Estoril

Sétima Legião: Uma Noite de Glória e Memórias No Casino Estoril

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Os Sétima Legião uniram passado e presente num abraço cheio de melancolia, força e celebração, esta sexta-feira, no Salão Preto e Prata do Casino Estoril. 

A banda, que marcou gerações com a sua sonoridade única e a simplicidade – que continua a ser a sua fórmula de sucesso – regressou com a força de sempre, num espetáculo que misturou emoção, intensidade e homenagem.

Manuel Fúria a abrir a noite

A noite começou com Manuel Fúria, que trouxe ao palco a intensidade e a teatralidade que marcam a sua música. Acompanhado apenas por um músico no sintetizador, apresentou temas do álbum Os Perdedores. Trouxe palavras urgentes e ritmos que tanto fazem dançar como pensar. Entre a ironia e a intensidade poética, Fúria deixou refrões que ecoaram na mente do público.

Manuel Fúria

Uma atuação, com cerca de meia hora, discreta, sem grande reação de quem ia entrando na sala, para o nome grande da noite.

O regresso triunfante dos Sétima Legião, o coletivo de músicos talentosos

Após um curto intervalo de 10 minutos, as luzes baixaram e o público foi envolvido por um instrumental a anunciar a entrada dos Sétima Legião.

Há bandas que colocam um ponto final na sua história e há outras que deixam as reticências em aberto. Os Sétima Legião pertencem claramente ao segundo grupo. Ajudaram a redefinir o panorama da música portuguesa nos anos 80 e 90 e apesar de ausente durante largos períodos, a banda nunca anunciou oficialmente um fim.

Em vez disso, desapareceram das luzes da ribalta e regressaram em momentos pontuais para espetáculos que continuam a ser celebrados com entusiasmo por quem os segue desde os primeiros acordes de “Sete Mares” ou “Glória”.

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A verdade é que os Sétima Legião nunca foram apenas uma banda e são um coletivo de músicos talentosos, cada um com a sua identidade e percurso próprio, que encontraram nesta fusão única de pop, rock e influências tradicionais portuguesas o terreno fértil para criar canções intemporais. O tempo afastou-os dos palcos como banda, mas não do universo musical e artístico.

Rodrigo Leão, um dos fundadores e figura central dos Sétima Legião, integrou os Madredeus e seguiu depois um percurso brilhante a solo. Após a pausa da banda, Rodrigo mergulhou no mundo das composições cinematográficas e das sonoridades clássicas e minimalistas. A sua carreira a solo granjeou reconhecimento internacional, com álbuns como Ave Mundi Luminar e Cinema a consolidarem o seu estatuto de um dos mais aclamados compositores portugueses.

Gabriel Gomes, cuja energia e destreza no acordeão foram sempre um dos pontos altos dos concertos dos Sétima Legião, manteve-se igualmente ativo na música após a pausa da banda. Participou no projeto Madredeus, onde deu contributos decisivos para a criação daquele som melancólico e viajante que conquistou o mundo. Mais tarde, continuou a explorar novas linguagens musicais em colaborações e projetos que cruzaram música portuguesa, contemporânea e world music, cimentando a sua versatilidade artística.

Nuno Cruz, o baterista da banda, manteve-se ligado ao mundo da percussão e do ensino musical. Embora tenha passado mais discreto no panorama mediático, nunca largou as baquetas e continuou a colaborar em projetos de música e ensino, transmitindo a sua paixão pelos ritmos a novas gerações.

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Paulo Marinho foi sempre o responsável por trazer a sonoridade céltica aos Sétima Legião, com a sua flauta e a gaita de foles a conferirem uma identidade muito própria às músicas da banda. Ao longo dos anos, Paulo manteve a sua ligação à música tradicional e celta, tendo fundado o grupo Gaiteiros de Lisboa, onde continuou a explorar o folclore português e europeu, com uma abordagem inovadora e experimental.

Paulo Abelho é uma peça fundamental na sonoridade dos Sétima Legião. É a animação em pessoa em palco e o seu contributo traz uma dimensão rítmica que vai muito além do convencional. Acrescenta uma textura quase tribal e reforça o caráter épico e atmosférico das músicas da banda.

Os Sétima Legião nunca se perderam de vista completamente. O regresso aconteceu de forma pontual e inesperada. Em 2012, a banda surpreendeu os fãs com um concerto inesquecível no Coliseu de Lisboa, celebrando o legado musical que construíram. Desde então, têm regressado aos palcos em ocasiões muito específicas, com espetáculos pontuais que enchem salas e corações.

Nos concertos mais recentes, como o que aconteceu ontem à noite no Casino Estoril, ficou claro que a química entre os músicos permanece intacta. As canções, longe de soarem datadas, continuam atuais e arrebatadoras, com a simplicidade e a autenticidade que foram sempre o segredo do sucesso dos Sétima Legião.

Com “Noutro Lugar”, logo no início, recordou-se o grande ausente: “Todos os espetáculos que temos feito são uma homenagem ao nosso Ricardo”, disse Pedro Oliveira, o vocalista, referindo-se a Ricardo Camacho, teclista e um dos fundadores dos Sétima Legião, que faleceu em 2018.

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A viagem musical prosseguiu com clássicos como “Sem Ter Que Amar”, “Partida” – que remonta ao primeiro single da banda, editado em 1983 –, e “Além Tejo”, entre outros temas que fizeram vibrar o público. As gaitas de foles e os bombos deram o tom a uma experiência cheia de intensidade e nostalgia, reforçada pelos aplausos calorosos que saudaram a participação dos novos elementos da banda.

Os momentos altos multiplicaram-se. “Reconquista” foi dedicada “à rapaziada do Liceu Rainha Dona Leonor”, um gesto que arrancou sorrisos e recordações àqueles que acompanharam a banda desde os primeiros tempos. Em “Mil Maneiras de Amar”, o vocalista ficou em destaque, acompanhado apenas por Gabriel Gomes no acordeão e Rodrigo Leão nas teclas, criando um ambiente íntimo e quase melancólico.

Seguiram-se momentos mais ritmados com “Tango no Exílio”, que começou de forma suave e embalada e explodiu numa energia contagiante com Gabriel Gomes a dominar o acordeão, e “Porto Santo”, uma das músicas favoritas de Ricardo Camacho e que foi dedicada por Pedro Oliveira “à minha mulher, a mulher linda que está aqui esta noite”.

A simplicidade que ainda conquista

A simplicidade continua a ser a marca dos Sétima Legião. Não há refrões esticados até à exaustão, nem canções prolongadas ao quilómetro – apenas uma autenticidade musical que continua a tocar fundo no coração de quem os ouve.

O concerto encerrou a intensidade de “Tão Só”,  “Por Quem Não Esqueci” e o instrumental “Pois Que Deus Assim o Quis”, com a banda sair de palco sob fortes aplausos.

Encore e despedida apoteótica

O encore trouxe mais emoção com “Porta do Sol” – e o verso “Desce o véu, arde a catedral” foi cantado em uníssono pelo público – e “Glória”. A fechar, a despedida fez-se com uma versão mais longa de “Sete Mares”, deixando o público em êxtase e a pedir mais.

Com este regresso triunfante, os Sétima Legião provaram que, mesmo com o passar do tempo, continuam a ser uma das bandas mais icónicas da música portuguesa, capazes de conquistar o público com a mesma simplicidade e força de sempre.

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