O manto vestido de preto invadiu a primeira noite da 17ª edição do festival Marés Vivas, que arrancou ontem com um dia esgotado e dedicado ao “good old rock and rol”. Scorpions foram os verdadeiros protagonistas da primeira noite, que contou com Xutos & Pontapés, Marcus King e Hybrid Theory.
Apesar da notória legião de fãs de Scorpions, que não estava apenas plantada junto ao palco, mas que vagueava por todo o recinto, o primeiro dia do festival abriu com Jéssica Pina, concorrente do Festival da Canção 2025. De trompete na mão, jazz e groove na alma, a artista atuou no Palco Moche e deliciou os “early birds” que iam chegando ao recinto.
Já no Palco Meo, palco principal, a história foi outra. A banda Hybrid Theory trouxe a nostalgia com o tributo a Linkin Park. A banda portuguesa, conhecida internacionalmente, percorreu uma discografia que estava na ponta da língua de quem os ouvia. “Numb”, “Points of Authority”, “In the End” e muitas outras, serviram como espécie de exorcismo, onde todas as letras foram sentidas e vividas ao limite, e onde todas as gargantas se uniram para voltar ao passado, para voltar a viver os momentos que acompanharam estas canções.
A verdade é que a música tem este poder: unir vozes, momentos, sentimentos e experiências, todas elas distintas, para fazer sentir, de qualquer forma.
O segundo nome no palco principal foi Marcus King, um cantor e guitarrista norte-americano que, com o seu chapéu cowboy, aproximou-se do microfone e entoou “This is how we do in South Carolina”, dando o mote para o concerto. Sem grandes surpresas no palco, o público foi aplaudindo e batendo o pé. Marcus King não fizeram tremer, mas souberam aquecer para o que viria a seguir.
À medida que anoitecia, o mar de gente especado em frente ao palco principal, ia crescendo. Famílias, crianças de todas as idades, avós, adolescentes: tudo pronto para os intemporais Xutos & Pontapés. Os clássicos varreram o festival de memórias, e as vozes do público foram o feat que cada canção precisava. “Maria”, “Circo de Feras”, “Não sou o Único”, “À Minha Maneira”, “Ai Se Ele Cai” e “A Minha Casinha” fizeram parte do reportório, que já conta com 40 anos. Foi em “Homem do Leme”, numa versão acústica e para fechar o concerto, que o festival estremeceu. O público assegurou que nenhuma palavra ficasse por cantar, que nenhum acorde ficasse por sentir.
Esta música faz parte da nossa história, como tudo o que os Xutos representam: foram, são e serão, um dos maiores capítulos da música portuguesa.
Com as vozes bem aquecidas, restava esperar pelo cabeça de cartaz desta noite. Enquanto isso, muitos se movimentaram até ao Palco Moche para ouvir a Milhanas, de ar selvagem e voz indomável. Não era conhecida por todos, mas foi um pequeno furacão com muita vontade de explodir.
Faltava um concerto no palco principal: Scorpions. Os 60 anos de história passavam nos ecrãs, como se estivessem a dizer “olhem para nós, vejam o que fizemos” e, no público, a ânsia de voltar aos tempos gloriosos ecoava no recinto.
As guitarras elétricas, que eram tantas que se perdeu a conta, carregavam a melodia, em conjunto com uma batida estrondosa e ansiosa por se libertar. “It feels like coming home again”, enalteceu Klaus, o vocalista, como se pedisse ao público para fazer uma viagem no tempo, aos êxitos que marcaram gerações. “Wind of Change”, “Still Loving You”, “Big City Nights” e “Send Me An Angel” foram os discos mais pedidos pelos fãs, cumpridos pela banda em momentos de verdadeiro êxtase.
“After all these years, the bad boys are still running wild”, gritou Klaus, seguindo-se de um gigante aplauso da plateia que, ao longo de uma hora e meia de concerto, manteve-se fiel e firme no lugar. Em estilo de promessa para com eles, promessa de ficar, de regressar e de nunca esquecer aquele momento. A carregar anos e experiências às costas, Scorpions foram a prova viva de que a idade é, de facto, um posto. Ainda que “Rock You Like a Hurricane” tivesse terminado o concerto ninguém se mexeu. Voavam baquetas e palhetas para os fãs, e viam-se corações com as mãos e sinais de beijos e despedidas: se pudessem, os Scorpions ficavam ali toda a noite, e toda aquela plateia corresponderia, num piscar de olhos.
O festival continua hoje com Thirty Seconds to Mars, Miguel Araújo e os Quatro e Meia, Nena & Joana Almeirante, Luis Trigacheiro & Buba Espinho, Gonçalo Malafaya, Carol Biazin, Beatriz Rosário, e Tiago Nacarato.
