Depois da passagem pelo Passeio Marítimo de Algés, em 2019, o australiano Ry Cumings, mais conhecido como Ry X, regressou a Portugal, para matar a Saudade e para nos enfeitiçar com as suas melodias, autênticas experiências sensoriais, repletas de emoção.
As honras de abertura couberam à londrina Laura Misch, artista que emergiu da nova vaga do Jazz britânico e que se destaca pela fusão única que promove entre as notas do seu saxofone e a música eletrónica.
O seu primeiro registo, o EP Shaped by Who We Knew, data de 2016, e os discos seguintes trouxeram maturidade e sobriedade musicais, mas foi com o álbum Sample the Sky, de 2023, que a cantora se consolidou como um dos valores seguros do cenário em que se passeia. “Hide to Seek“, uma das canções que se fez ouvir esta noite, foi prova disso, deixando a sala maior do Lisboa ao Vivo positivamente à deriva, numa espécie de transe.
Um concerto curto, mas intenso, em que Laura nos conquistou com as suas tonalidades atmosféricas e imersivas.
À hora marcada para o encontro, Ry Cuming sobe ao palco do Lisboa ao Vivo e abraça-nos com saudade. O silêncio impera, quando se ouvem os acordes iniciais de “Sweat“. Como se Lisboa tivesse sustido a respiração. Quatro minutos de apneia, que terminam com um estrondoso aplauso. Depois, “Salt“. A tónica é a mesma, mas, na audiência, já é difícil conter a emoção, depois da longa espera e do calor das primeiras notas.
Segue-se “Bound” e a imersão numa dimensão mais eletrónica. A música parece não ter sido escolhida ao acaso: quando chega a hora das palavras, sente-se que o vínculo é forte entre artista e plateia. Ry confessa já ter passado muitas vezes por Portugal, mas que só por uma vez havia tocado no nosso país, em 2019, no festival NOS Alive.
A próxima chama-se “Berlin“. Não há sol ou o Tejo, mas neve. Quase uma traição. Mas Lisboa perdoa. “This next one is called All I Have”.”, anuncia Ry X. Neste momento, também ele é tudo o que temos. Não importa o resto.
O namoro continua, enquanto ouvimos “You” e mergulhamos na doce melancolia de “Oceans“. “Thank you so much!”, agradece o australiano, quando os instrumentos se calam.
Escutamos “Shortline” e percebemos que o Lisboa ao Vivo se transformou numa discoteca. Todos dançam, sem parar. E quando nos é oferecida “The Water“, um dos temas mais celebrados da noite, continuamos sedentos.
“We’re gonna play one more.”. E ficamos com “Howling“, por entre os gritos do público. Um misto de alegria, pelo momento que se vive, e de tristeza, que este reencontro é efémero. As palmas seguem o compasso da música e, no final, temos direito a (mais) uma declaração de amor: enquanto acarinha a guitarra e a coloca junto ao peito, Ry X conta que esta tour começou nos Estados Unidos e passou por toda a Europa Central e de Leste, até desaguar aqui, junto ao mar, onde se sente feliz.
Terminamos com “Only“. Afinal, Lisboa sabe que só há um Ry X e este abraço aqueceu-nos a alma. Mesmo que por apenas uma noite…
