ELECTRA a partir da trilogia Electra e os Fantasmas, de Eugene O’Neill, é a peça que o TEC – Teatro Experimental de Cascais estreia hoje, em Cascais.
Com encenação de Carlos Avilez e dramaturgia de Graça P. Corrêa, a peça conta com as interpretações de Bárbara Branco, Carla Maciel, Carolina Faria, David Esteves, Diogo Mesquita, João Craveiro, Luiz Rizo, Miguel Amorim, Miguel Loureiro, Rafael Carvalho, Renato Pino, Rita Calçada Bastos, Sérgio Silva, Susana Luz, Teresa Côrte-Real, Teresa Jerónimo, Tobias Monteiro e Vera Macedo. As canções originais são da autoria de Tiago Machado.
Na trilogia que compõe Electra, O’Neill inspira-se na Oresteia de Ésquilo—ou, aliás, no antigo mito grego da maldição da casa dos Átridas, condenados ao delito endógeno, à repetição de crimes, à culpa hereditária transmitida de geração em geração—para retratar uma humanidade corrupta, que se afasta cada vez mais dos valores essenciais e éticos da amizade, da lealdade, do amor e da harmonia vital. A ideia para a trilogia surge na primavera de 1926, quando O’Neill se questiona, no seu diário: “será possível descobrir uma aproximação psicológica moderna do sentido de destino grego, que um público inteligente e actual, desprovido da crença em deuses ou na retribuição sobrenatural, possa compreender?” Uns meses mais tarde, numa anotação datada de 1927, decide localizar a acção trágica da sua trilogia no ambiente doméstico, decorrente da “compulsão insistente de paixões engendradas no passado familiar, que constituem o destino” dos Mannon. A casa dos Mannon é assim transformada num palco de horror, assombrado e claustrofóbico; num lar sem repouso nem
paz, onde todas as personagens anseiam por longínquas ilhas encantadas que nunca alcançam.
Em contraste com a Oresteia de Ésquilo, onde ocorrem quatro assassinatos, a obra de O’Neill envolve dois homicídios, dois suicídios e uma auto-imolação. Esta ênfase na auto-aversão e auto-punição—ou na ideia de que cada um é, afinal, o seu próprio carrasco e/ou libertador—torna visível o pensamento existencialista –nietzscheano de O’Neill, de que embora as forças que demarcam o destino sejam pré-determinadas pela estrutura disciplinar “humana, demasiado humana”, compete ao indivíduo exercer a sua vontade de liberdade, para agir e criar o seu próprio sentido. Aliás, durante toda a sua vida, Gene O’Neill sofreu de uma sensação duradoura de não-pertença, de um desenraizamento profundo em relação ao enredo da violência humana: aspirava continuamente à liberdade e ao sonho, que só conseguiu encontrar na sua Arte—e no Mar.
ELECTRA é a 177ª produção do TEC e pode ser vista de quinta a sábado, às 21h00, e ao domingo às 16h00, de 18 de novembro a 17 de desembro na Academia Artes do Estoril.
A peça tem 165 minutos de duração, é recomendada para maiores de 14 anos, e os bilhetes estão à venda no local e online e custam 15 euros.
