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Terceiro Dia do SonicBlast Fest 2025 – Da Cittadella À Cidade Do México, A Noite Foi De Encontros E Reencontros

Por Diana Silva (Fotografia) e João Barroso (Texto)

Castle Rat - SonicBlast

Ao terceiro dia de SonicBlast, o sol ergueu-se, imponente, sobre a Duna dos Caldeirões, e dissolveu a bruma que reinara nos dias anteriores. Naquela que foi a primeira edição esgotada, desde que o festival se mudou para Âncora, o último dia começou cedo, entre o areal da Duna dos Caldeirões e os poderosos riffs que exalavam dos palcos.

Da Cittadella, com Amor

Coube aos italianos Messa a honra de abrir as hostilidades no terceiro – e derradeiro – dia de SonicBlast. Apesar do tempo convidar a um mergulho no Atlântico, ou nas águas do Âncora, muitos foram aqueles que decidiram dirigir-se mais cedo até ao recinto e queimar, desde logo, os últimos cartuchos disponíveis.

Oriundo de Cittadella, localidade medieval sita na região de Veneto, o grupo apresentou-se em palco com um novo disco acabado de forjar, o The Spin, tocando-o quase integralmente, fazendo, ainda, uma curta passagem pelo registo anterior, ao ritmo de “Rubedo”.

Uma performance que nos ofereceu um pouco do melhor do Gothic/Doom que vai emergindo do coração da bella Italia e que deixou o público em “ponto de rebuçado”, para a sequência que se seguiria.

Da Costa Atlântica ao Lago Ontário

The Atomic Bitchwax

Ao longo da última década, The Atomic Bitchwax tem visitado Portugal de forma regular e esta era a sua quarta passagem pelo palco do SonicBlast, pelo que não foi de estranhar a generosa moldura humana que aguardava pelo conjunto originário de Neptune, New Jersey, apesar da hora e do calor que se sentia, junto à foz do Âncora. Afinal, tratava-se do reencontro entre velhos conhecidos.

“Hey Alright” foi a primeira malha que se fez ouvir. Um regresso ao registo de estreia da banda, o homónimo The Atomic Bitchwax, editado em 1999. Esta seria, aliás, a obra mais revisitada ao longo do concerto.

How are you doing, so far?“, perguntou o vocalista Chris Kosnik, ele que também se ocupa do baixo. “Do you want a slow one or a fast one?“, continuou. Perante a previsivel resposta do público, o grupo atirou-se a “The Giant”, seguindo-se, de imediato, “Fourty-Five”. Entretanto, fomos convidados a apanhar boleia, ao som de “So Come On”. A divertida performance de The Atomic Bitchwax incidiu, sobretudo, sobre temas mais antigos, mas houve espaço para escutar “Kiss the Sun”, cover dos seus conterrâneos Core, e “Hope You Die”, canção extraída do mais recente registo da banda, o Scorpio, de 2020. “A love song“, como informou Kosnik.

O final chegou ao sabor de “Shit Kicker”. Um regresso às origens que incendiou o SonicBlast, cujo público, mais uma vez, saiu rendido ao Stoner/Hard Rock dos norte-americanos.

The Atomic Bitchwax - SonicBlast
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King Buffalo

Mal refeitos da performance de The Atomic Bitchwax, cruzámos a fronteira entre os estados de New Jersey e New York e viajámos até Rochester, nas margens do Lago Ontário, para receber os King Buffalo.

Make sure you stay hydrated out there!“, avisou o vocalista Sean McVay, assim que subiu ao púlpito e antes de ensaiar os primeiros riffs de “Mercury”, canção que abriu o set dos nova-iorquinos. Seguir-se-ia “Hours”, também ela parte do álbum Regenerator, de 2022, o último registo de longa-duração editado pela banda, mas seria The Burden of Restlessness a obra que mereceria honras de destaque, ao longo do concerto, incluindo “Burning”, uma das músicas mais aclamadas pelo público, sendo que, pelo meio, ainda houve tempo para escutar “Eye of the Storm”, tema de 2018, e “Balrog”, o mais recente single lançado pelo grupo.

O epílogo chegou ao som de “The Knocks”, não sem que, antes, McVay tivesse prestado uma genuína homenagem à plateia: “Hell yeah, SonicBlast! You guys rock! Thank you so much!“.

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O peso das notas de Monolord, entre o Garage Rock e o Patriarcado

Dead Ghosts

Uma década depois da sua passagem pelo festival Reverence Valada, os canadianos Dead Ghosts trocaram as margens do Tejo pela foz do Âncora, apresentando-se no Main Stage 2 do SonicBlast com a missão de acalmar as hostes, depois da intensa viagem que fizeramos pela costa leste dos Estados Unidos.

O som da banda é deliberadamente primitivo, no bom sentido da palavra, o que tem o condão de nos transportar, imediatamente, para o imaginário dos anos 60 e 70, altura em que o rock’n’roll era já um adolescente, pronto para conquistar o mundo. Surf e garage rock, rockabilly, punk e lo-fi noise são alguns dos ingredientes que o grupo utiliza para cozinhar a sua música. Depois, tempera-a com boas doses de psicadelismo. Foi essa a fórmula utilizada pela formação de Vancouver para cativar os muitos festivaleiros que se juntaram para assistir à sua apresentação.

3 / 9

Monolord

Hello! We are Monolord!“, cumprimentou-nos o vocalista e guitarrista Thomas Jäger, enquanto fitava a imensa mole de gente que aguardava a atuação dos suecos.

Aos primeiros acordes de “I’ll be Damned”, o doom desceu à terra. Apesar do sol, era como se a névoa tivesse voltado a tomar conta da pequena vila minhota, deixando muitos inocentes em transe, à sua passagem. Efeitos colaterais…

O alinhamento de Monolord, um dos nomes mais aclamados na edição deste ano do SonicBlast, dividiu-se por quase toda a sua discografia principal, ficando de fora o álbum Vænir, de 2015. “Empress Rising” criou o caos na plateia e a última cancão a ecoar pelo recinto, “The Last Leaf”, fez ruir a Duna dos Caldeirões, tal o peso das notas que emanavam do palco.

4 / 8

Patriarchy

Tal como haviam feito na única passagem por solo lusitano, há dois anos e meio, os californianos Patriarchy, liderados pela multifacetada artista Actually Huizenga, fizeram jus à fama de que gozam e ofereceram-nos uma performance tão intensa quanto provocadora.

You can stay, if you want, and take as many pictures as you like! We need attention.“, gracejou o baterista AJ English, durante a atuação do grupo, que se apresentou em formato duo e apoiado pelo novo registo, que deverá ver a luz do dia em setembro.

Tendo a responsabilidade de atuar entre uma das bandas mais populares do certame e um dos conjuntos mais aguardados, Patriarchy prevaleceu, apesar de tudo, graças à sua combinação visceral de dark wave, dance e industrial music, temperada por vibrações góticas e ilustrada por uma performance teatral a condizer, o que transformou este concerto numa experiência visual e sonora que terá cativado muitos novos fãs.

O Prato Principal Foi Servido Com a Nata do Hardcore Punk

Circle Jerks

Quatro décadas e meia depois de terem dado os primeiros passos, os californianos Circle Jerks visitaram Portugal pela primeira vez, para gáudio dos muitos fãs que esgotaram o recinto do SonicBlast. Talvez por isso, o vocalista Keith Morris se tenha dedicado a passar grande parte do tempo a falar com a audiência. Afinal, este era o primeiro encontro entre as partes. Ainda assim, nos intervalos entre esses monólogos, disfarçados de conversa, o conjunto de Hermosa Beach conseguiu debitar quase três dezenas de músicas.

A banda surgiu em 1979, quando Morris abandonou os lendários Black Flag, e navegou a primeira vaga de hardcore punk, tornando-se nome incontornável, quando falamos do género. Ao longo das décadas que se seguiriam, o grupo sofreu múltiplas alterações na formação original e passou por vários períodos de hiato, mas sobreviveu para abraçar o público português, pelo menos uma vez.

Apesar da longevidade, é parca a discografia da banda, mas cada um dos temas foi cantado em uníssono, entre vagas de crowdsurf, mostrando a popularidade de que goza a formação californiana por terras lusas e fazendo crer que nos encontrávamos num pequeno ginásio, a transpirar, ao invés de num recinto à beira-mar plantado, para satisfação de Keith Morris: “You make me feel that each and every song is my favourite one!

O espetáculo debruçou-se, sobretudo, sobre o álbum Group Sex, editado em 1980, mas também pudemos recordar outros discos e escutar algumas covers de Black Flag.

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Uma Dark Wave Inundou a Praia da Duna dos Caldeirões

Molchat Doma

Os riffs pesados e arrastados são o seu cartão de visita, mas o SonicBlast caracteriza-se, sobretudo, pelo ecletismo da sua oferta musical. A confirmar este facto, de Minsk, capital da Bielorrussia, e com estatuto de cabeças de cartaz, chegaram os Molchat Doma, grupo que navega as ondas post-punk, dark wave e synth-pop.

Assim que soaram as primeiras notas da proposta musical que nos apresentaram os bielorussos, o recinto do SonicBlast transformou-se numa pista de dança. Chega a ser redundante referirmos este facto, quando, nas noites anteriores, Maquina. e Dame Area, por exemplo, conseguiram criar o mesmo efeito. Desta vez, porém, foi uma densa nuvem de tonalidades góticas que desceu sobre a Praia da Duna dos Caldeirões, fazendo crer que nos encontrávamos numa espécie de club noir.

Apesar de mostrar ser homem de poucas palavras, o vocalista Egor Shkutko não se cansou de agradecer, na sua língua natal. “Spasibo!“, atirava, sempre que os sintetizadores paravam para descansar. Mas o público estava conquistado, a priori, acompanhando cada uma das músicas com palmas, o instrumento que tinha mais à mão, sendo que ainda houve espaço para o headbang, quando a banda ensaiou alguns acordes de Nirvana.

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On a mission to protect the Realm

Castle Rat

Greetings. We are Castle Rat and I am your Rat Queen.“, anunciou Riley Pinkerton, assim que entrou em cena. Na sequência, a cantora fez a sua declaração de interesses: “We are trying to expand and protect the realm from those who want to destroy it.“.

Depois de terem atuado na habitual warm up party, na véspera do evento, os nova-iorquinos Castle Rat tiveram oportunidade de subir a um dos palcos principais, no último dia do SonicBlast, para voltar a espalhar a palavra. O povo juntou-se, em grande número, em torno do Main Stage 2. Muitos eram aqueles que haviam sido convencidos, à primeira audição. Outros, porém, tinham perdido a oportunidade e procuravam, agora, verificar se os elogios que tinham escutado correspondiam à realidade.

O “Reino” tornou-se independente em 2019. É jovem, portanto. Ainda assim, tem ambições. Apoiada pela sua estranha corte, formada por The Plague Doctor (baixo), The Druid (bateria), The Count (guitarra) e The Rat Reaperess, a estranha súbdita com laivos de Morte, a Rainha Riley passou a mensagem, inscrita nos álbuns Into the Realm e The Bestiary, os dois compêndios do Fantasy Doom Metal defendido pela banda norte-americana.

8 / 17
Depois da Bonança, a Tempestade!

Dopethrone

Pouco antes do cair do pano sobre a edição deste ano do SonicBlast, o Sludge/Doom Metal tomou de assalto a Duna dos Caldeirões! Inspirados pelo célebre álbum dos Electric Wizard, os canadianos Dopethrone descarregaram um número incomensurável de riffs pesados e não fizeram reféns.

A intro que antecedeu a entrada em palco do conjunto de Montreal soava a country e blues, mas esse facto não podia ser mais enganador: ao longo dos minutos que se seguiriam, a banda não deu um minuto de descanso aos headbangers e crowdsurfers de serviço, fazendo estremecer portas e janelas, nas redondezas.

Desde logo, o vocalista Vincent Houde avisou que não iria fazer grandes discursos. A música falaria por si. Porém, não deixou de agradecer ao público nacional, desenhando um coração com as mãos e exclamando “fucking love!“, embevecido perante a reacção da audiência a cada nota debitada pelos instrumentos.

A mais recente obra do grupo originário de Montréal mereceu honras de destaque, ao longo de uma hora em que Âncora tremeu, sob o jugo de Dopethrone!

9 / 11
Ao Epílogo, Space Metal, Temperado Com Chili

Passaram-se 8 anos desde que os mexicanos Vinnum Sabbathi pisaram o palco do SonicBlast. Na altura, em Moledo. O tempo não foi suficiente para apagar os elos criados, pelo que a banda teve direito a uma enchente, quando subiu ao palco do Stage 3, para colocar um ponto final nas hostilidades. O Drone/Space Metal oferecido pelo conjunto oriundo da cidade do México fez as delícias de todos aqueles que resistiram até ao lavar dos cestos, encerrando, da melhor forma, a 13ª edição do festival.

Com o mar a bater ali ao lado e a lua a reinar sobre o Âncora, desceu o pano sobre mais uma edição do SonicBlast, evento que parece ter durado o tempo de um suspiro. Felizmente, já só faltam pouco mais de 300 dias para que possamos regressar. Até lá, refugiar-nos-emos nas recordações daquele que, muito mais do que um festival de música, é um ritual anual. Não se ouve. Vive-se.

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