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Touché Amoré – Reencontro Intenso Em Noite De Tempestade

Reportagem de Diana Silva (fotografia) e João Barreiros (texto)

Touche Amore
Seis anos depois da passagem pelo palco do Amplifest, no Porto, os californianos Touché Amoré voltaram a pisar solo nacional, no âmbito da tour de apresentação do disco Spiral in a Straight Line, editado em outubro do ano passado. Lisboa, aliás, foi a cidade escolhida para o primeiro concerto da digressão.
 
A saudade era muita, pelo que, apesar da fúria de Taranis, deus celta que se ocupa das chuvas e das tempestades, a fila era já considerável, à hora a que abriram as portas do Lisboa ao Vivo. O espaço não iria esgotar, mas estaria praticamente cheio, para um reencontro há muito aguardado.
 
A abertura de hostilidades é da responsabilidade dos espanhóis Boneflower, banda cuja presença nesta digressão não estava prevista, inicialmente. Contudo, em boa hora foi anunciada a sua participação em algumas datas, incluindo a de Lisboa.
 
É relativamente cedo e uma tempestade assola a capital portuguesa. Apesar disso, a sala já apresenta uma moldura humana razoável, à hora marcada para o início do espetáculo. No palco, Boneflower entra em cena a todo o vapordescarregando o seu arsenal de post-hardcore e mostrando querer aproveitar os poucos minutos de atuação a que tem direito. Rapidamente, conquistam a atenção dos presentes e tornam quente o ambiente, ao contrário do que se passa lá fora, onde reinam a chuva e o frio.
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Olá, boa noite! We are Boneflower from Salamanca and Santander, Spain!, anuncia o vocalista (e guitarrista) Eric Montejo, transpirando uma certa doçura e timidez, algo que contrasta, de forma evidente, com a agressividade da música que se faz ouvir. É estranho que a comunicação entre espanhóis e portugueses seja feita em inglês, mas sabemos que nuestros hermanos, em geral, sentem um certo constrangimento em usar o chamado “portunhol” e o importante é que seja passada a mensagem.
 
A performance do conjunto castelhano continua, sem grandes paragens, que o tempo é curto. Montejo e seus pares (Jaime Díaz, na bateria, e Rubén Desan, no baixo) entregam-se de forma intensa aos instrumentos respetivos, enquanto a plateia vai ficando cada vez mais composta. Entretanto, o vocalista confessa que os Boneflower estão cansados de tocar as mesmas músicas, ao longo dos últimos anos, pelo que este concerto é aproveitado para testar um alinhamento diferente, sendo, também, anunciado que um novo álbum está prestes a sair da forja.
 
Antes do último tema, Montejo conta que a banda tocou no Disgraça, há meia-dúzia de anos, e que, sempre que passam por Lisboa, não dispensam uma visita ao icónico espaço, sito no bairro da Graça. Depois, avisa que têm que partir para Madrid, assim que terminem de tocar, não podendo ficar a conviver com o público, já que a viagem é longa e têm os empregos à espera. “Vida de artista underground”, medita, sendo contemplado com um merecido aplauso.
 
Seguem-se os norte-americanos Trauma Ray, conjunto que iria experimentar vários problemas técnicos, ao longo da noite, mas que, ainda assim, conseguiu cativar uma plateia que já se encontrava praticamente cheia.
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Olá Lisboa! We are Trauma Ray, from Texas! Thank you for being here!”, agradece o guitarrista e vocalista Uriel Avila, antes de anunciar que este é o primeiro concerto que dão na Europa e de se referir ao novo disco, lançado em outubro, o Chameleon. A sequência inicial incluiu “Breath“, “Torn“, “Bishop” e “Bardo“, temas extraídos do mais recente registo e que deixam a nu as fontes de onde Trauma Ray bebeu, para compor a sua música: Grunge, Hardcore e elementos que remetem para o Metal Alternativo, estilo que se popularizou no final da década de 90 e início do novo milénio.
 
“This song is called Chameleon!”, anuncia Avila. É neste momento que se agudizam os problemas com o som, que já se haviam manifestado, de forma tímida, no início do concerto. Porém, a banda não se deixa vergar: sentindo que o público está consigo, continua a tocar, enquanto a produção procura resolver a questão. Normalidade reposta e “Halley” ecoa pela sala. Esta é uma das poucas vezes em que a formação de Fort Worth revisita o passado, já que a prioridade é apresentar o material editado no final de 2024. Afinal, Chameleon é o primeiro longa-duração dos norte-americanos.
 
“This is a sad song. Are you ok with sad songs?”, pergunta o frontman. E ficamos com “Spectre“. Ainda há tempo para escutar “Ember” e “Relay“, música de 2018, parte do EP de estreia da banda.
 
“Touché Amoré is up next! Thank you all and have a good night!”, assim se despedem os Trauma Ray, pela voz do seu vocalista e depois de uma performance manchada pelas incidências sonoras, que, ainda assim, deixou saudade a alguns fãs mais devotos.
 
Seis anos depois da sua última passagem por Portugal, os californianos Touché Amoré invadiram o palco do Lisboa ao Vivo como se a sua vida dependesse disso, abraçando a audiência com sofreguidão, ao som de “Nobody’s“, um dos temas do novo disco, Spiral in a Straight Line, também ele editado em outubro. Na sequência, ouvimos “Art Official” e “Nine” e observamos a exibição dos primeiros crowdsurfers da noite.
“We are Touché Amoré, from Los Angeles, California! Thank you for being here!”, cumprimenta-nos o vocalista Jeremy Bolm. Seguem-se “Praise“, “Reminders“, “Spacejam“, “Uppers/Downers“, “Come Heroine” e “Honest Sleep“. A música é descarregada quase num só fôlego e a audiência junta-se à banda, cantando cada palavra, de cada verso, batendo palmas a compasso e imergindo na atmosfera musical que toma conta da sala.
 
This is the first night of the tour. Thank you so much!”, agradece Bolm. “This is taken from the new album.”, continua, anunciando “Hal Ashby“. Depois, “Face Ghost” e “New Halloween“, até que desaguamos em “Disasters“, mais um tema novo. Por esta altura, é difícil distinguir fãs e artistas. Palco e plateia. O Lisboa ao Vivo é um só corpo.
 
Entretanto, Jeremy Bolm pede um aplauso para Boneflower e entrega-se a “Harbour” como se o concerto tivesse começado no segundo anterior. Não pára um instante. Ouvimos “Palm Dreams” e “Savoring“, e chega a hora de exaltar Trauma Ray.
 
“We are lucky…”, medita o cantor, enquanto olha, embevecido, para a audiência, que não poupa uma gota de suor, em cada música. “Next song is called Tilde”, anuncia, pedindo ao público que o acompanhe, como se isso fosse necessário.
 
Pathfinder” e “Rapture” são dos temas mais aplaudidos e anunciam que o final está para breve. Antes, porém, os agradecimentos e uma nota especial: Elliot Babin, o baterista de Touché Amoré, foi pai, pelo que não pôde acompanhar a banda nesta digressão e é substituído por Sam Bosson, um amigo de longa data.
This song is called Force of Habit“, anuncia Jeremy Bolm, para gáudio da plateia. Segue-se “Flowers and You” e a saída de cena, mas Lisboa quer mais e pede um encore, obrigando a que os norte-americanos regressem ao palco.
 
O epílogo é feito sob as notas de “Limelight“, música de 2020, cantada em uníssono.
 
Uma hora depois do início do concerto de Touché Amoré, as luzes apagaram-se e a tempestade cessou, dentro e fora do Lisboa ao Vivo. Um reencontro breve, mas intenso.

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