No terceiro e último dia do Vagos Metal Fest tivemos Celtic Frost pela mão dos Triptykon, Folk pelos Heidevolk e a invocação do demo pelos Belphegor.
Pull the Trigger
A jovem banda do Algarve teve honras de abertura do dia. Arrancaram com “2.0”, e foram por aí fora.
Um muito bom som no baixo, conseguiram pôr o pessoal a mexer com o seu som que anda no nu metal.
“Shut up”, a última canção, fechou um concerto de uma banda que pode cavalgar o revivalismo de nu metal que anda por aí.
Praetor
A banda diz-se Luxemburguesa, mas o vocalista é português. Fazem um thrash melódico, que nos traz logo à cabeça os Metallica de boa memória, e sabem estar num palco.
Com um único disco editado em Fevereiro, Praetor, já atuaram por vários países. Assim que “Pitch Black” soou, o pessoal começou a chegar-se ao palco.
Há algo no thrash bem tocado que une os metaleiros, não se resiste a ir ver aquilo e ao headbanging. Comnicativos, souberam puxar pelo público e criar o primeiro circle pit, apesar do calor e do sol.
“Dormant brain” fechou o concerto, mas deixou a curiosidade pela banda em aberto.
Urne
A banda inglesa estreava-se em Portugal. Tiveram muitos problemas com voos e material perdido, mas conseguiram estar ali para tocar para nós.
Uma banda nova que só tem um disco Serpent & Spirit, mas outro a sair A Feast on Sorrow, editado pela Spinefarm. Vieram mostrar a sua mescla de estilos, mas conseguem um som original.
Com músicas longas, só tiveram tempo para quatro canções, mas mesmo com todas a complicações deram um excelente concerto.
Tocaram “The flood Came Rushing in” e “The burden” do disco novo. A “The Burden” nunca tinham tocado ao vivo, correu bem, ninguém diria que era o caso de ser uma estreia.
Uma banda a estar atento.
Process of guilt
Drone, doom, sludge, todos os géneros misturados com peso, intensidade e mensagem. Os Process of Guilt já levam vinte anos de carreira e cinco discos sendo o mais recente Slaves Under the Sun.
“Scars” transportou todos os metaleiros para um transe, fomos embalados pelo riffs pesados. “Victims” e “Breathe” continuaram o concerto.
Aquele peso todo foi demais para os equipamentos, que a meio da “Breathe” precisaram de recuperar o fôlego e desligaram-se. Rapidamente a situação foi remediada, a energia reposta e o transe retomado.
Fecharam com “Host” e muitas palmas.
Heidevolk
Depois da intensidade dos Process of Guilt precisávamos de elevar o espírito. O metal é universal, há bandas de todos os géneros em todos os pontos do mundo.
A força da música é tão grande que mesmo quem corre risco de vida não resiste a tocá-la e um bem haja para eles, caso dos Arsames ou dos Confess.
Assim, com todas estas culturas diferentes, todas devem ser celebradas e o folk metal é exímio para isso. Qualquer que seja a banda é sempre garantida a festa.
Nesta ocasião tivemos os Heidevolk. A banda holandesa, que já conta com 20 anos de existência e nunca tinha vindo a Portugal, ficou surpresa com a receção calorosa que teve.
Com as primeiras harmonias de “Hagalaz” a festa estava lançada e o mosh também.
As harmonias entre todos os vocalistas – só o baterista é que não canta – são um dos pontos altos da banda.
Apesar de não se perceber nada do que dizem, cantam em holandês, isso não interessa nada, porque o poder do riff é universal e a celebração de outras culturas é algo que está intrínseco na população metaleira.
“A Wolf in my heart”, talvez por ser em inglês, foi um dos pontos altos. Dá jeito também ter dois vocalistas que sabem puxar pelo pessoal.
“Schildenmuur” teve direito a rowing pit, logo antes de anunciarem “Wederkeer”, faixa título do novo disco. Conseguiram um circle pit brutal com “Saksenland”.
Pelo meio ainda houve tempo de lembrar o que se passava na Eslovénia, no festival MEtalDays, em que devido ás fortes chuvas e inundações, os metaleiros estavam presos, mas felizmente sem vítimas.
“Vulgaris Magistralis” e “Nehallenia” fecharam um concerto festa.
Monuments
A banda, que caía que nem uma luva no Comendatio, veio ao Vagos. Esta opção da organização é coerente com a sua expansão de sons e públicos, e sejamos francos, já fazia falta algum prog.
Deram um excelente concerto na primeira parte dos Leprous, no LAV, em Fevereiro.
Alguma estranheza por parte do público, mas lá se foram chegando, por força do seu vocalista Andy Cizek que é um animal de palco. Tem um alcance vocal imenso, tanto dá os gritos mais esganiçados como a seguir canta de forma normal.
“Cardinal red” começa e Andy já está na grade com o público, “Origin of escape”.
As contantes mudanças de time signature e o som mais djenty foram uma novidade no festival. Nos anos 90 era o black metal que ditava as maiores inovações com bandas que desbravaram novos caminhos, atualmente, parece que o hardcore assumiu essa experimentação.
Perderam todo o equipamento, cortesia da Air France, mas lá conseguiram arranjar guitarras e deram um bom concerto. Também já não são novatos, desde 2007 com quatro discos.
“False providence”, que teve direito a homenagem a Mick Gordon, que colaborou com eles. O senhor que fez a banda sonora do Doom (música que nos acompanhou durante horas por dias a fio).
Concluíram com “I, the creator”, um excelente concerto, cheio de percalços, mas que uma banda muito profissional conseguiu ultrapassar.
Mais prog no Vagos é preciso.
Belphegor
Reduzimos a complexidade mas subimos a intensidade. A teatralidade é uma das imagens de marca dos austríacos.
Um palco muito bem montado, com cruzes invertidas, com uns dois metros, de cada lado da bateria. Quatro postes, compostos de correntes com taças cerimoniais, elevavam-se a uns bons dois metros.
Ladeando a bateria tínhamos dois mantos, vermelho sangue, coroados de caveiras e ossos. Tudo muito mórbido e solene.
Serpent, o baixista, surge com o seu corpse paint tradicional, branco e com olhos encovados qual caveira.
Helmuth, vocalista, guitarrista e fundador da banda, apresenta uma pintura de olhos encovados e lágrimas de sangue, mas pelo resto do corpo percebemos que as lágrimas não são dele. Coberto de sangue de um sacrifício ritual empunha o seu machado sacramental no altar da blasfémia.
Se o demónio não se manifesta hoje, claramente o demónio é surdo. “The procession”, “Baphomet”, “The devil’s son” iniciam o ritual.
O público abana-se em conformidade, incendeia-se uma caveira no palco e “Conjuring the dead” segue-se.
Como o ritual ainda não acordou nenhum morto, é altura de Helmuth, sempre com expressões de alguém que está num transe de ódio e maldade, ordena que “Let’s fuck this place up”, um mosh sacramental arranca para agrado do demo que se ri, mas de um modo assustador.
Acendem as campânulas para “Virtus asinaria”, colocam-se de joelho em reverência, certamente o diabo sorri. “Totendanz” criou o caos completo, os seguranças não têm mãos a medir, temos um público possuído.
Mas nada de demónio, claramente é surdo.
Imperial Triumphant
Os Imperial Triumphant são um dos casos sérios de música extrema da atualidade. Nada ali é fácil, a música é ultra complexa, os tempos, mudanças constantes, a voz, tudo é extremo.
No entanto, são estranhamente cativantes, é impossível não ficar siderado com tudo o que se passa no palco. Vestidos de preto com as suas máscaras douradas, levam-nos, como os próprio dizem, pelos sons de Nova York.
“Chump Change”, inicia a estranheza, mas contrariamente ao que se pensaria, são super enérgicos. “Metrovertigo”, “Atomic age”, correm pelo palco, contorcem-se mas mesmo assim continuam a tocar.
Um concerto que só visto pode ser apreciado, eles incorporam toda a sua estranheza, desde o som ao estilo.
“Chernobyl blues” e “Swarming Opulence” fecharam o concerto.
A organização aqui, juntamente com os Monuments, de facto expôs o público a um tipo de som nada comum neste festival.
Triptykon
Depois de termos os Belphegor, seguia-se Tom G. Warrior. O senhor, que em 1983 ajudou a criar os Hellhammer e em 1984 os Celtic Frost, basicamente criou o livro que os Belphegor tiveram que estudar para poder expandir.
É indesmentível a importância que os Celtic Frost tiveram no metal e, enquanto único membro constante e vivo, Tom vinha celebrar esse legado com a sua banda atual, Triptykon.
Já tinham passado pelo Vagos há uns anos, com os seus originais, mas hoje era de nostalgia e história que se falava. Sem tanta teatralidade, mais terra a terra e com aço para cortar, destruíram qualquer impassividade que existisse no público. “Into the Crypt of rays”, “Dethroned Emperor”, “Morbid Tales”, “The usurper”.
Era clássico atrás de clássico. Pelo meio uns “You are too kind”, mas era mais que merecido. Nada do que tinha passado pelos palcos poderia existir sem ele, e sem o Martin Ain, falecido em 2017.
“Nocturnal fear”, trouxe um mosh ainda maior ao que esteve sempre em movimento, muitos corpos voaram para as grades.
Terminaram com “Necromantical Screams” a celebração da memória.
Midnight
Devido a uma mudança de horário com os Heidevolk, o Midnight, que devia tocar pelas 18, tocou na hora certa, 00:30. Faz mais sentido.
A antecipação para o concerto era elevadíssima, a fama de uns concertos brutais era vasta e o seu blackened speed metal prometia muita agitação.
“All hail Hell”, a excelente “Fucking speed and darkness”, que quase me impedia de tirar fotos (é difícil fazer isso e abanar a cabeça), “Black rock’n’roll”.
O público fazia mosh à mesma velocidade, muito crowd surfing e sing along. “Szez Witchery” e “Satanic Royalty” foram pontos altos.
Foi pedindo ao pessoal para saltar as grades, sentia que o público estava longe, mas não lhe fizeram a vontade.
Mais uma vez os amps não aguentaram a velocidade e tiveram que descansar.
Deixou de se ouvir a guitarra, num power trio nota-se muito. E o Midnight teve que encher chouriços durante um bom bocado, falou dos amps, do ordenado dos seguranças, que devíamos fazer muito crowd surfing para eles merecerem o que ganham e incentivar a economia.
Estava complicado, mas lá se voltou e continuou.
Arrancou um enorme mosh com “You cant stipo steel”, o pessoal tinha descansado e terminaram com “Unholly and Rotten”. Pôs um pano a arder no baixo e elevou alto a tocha do rock enquanto cumprimentava o público.
Um dos concertos mais intensos do dia, dos mais participados e um grande espectáculo. Numa sala mais pequena em nome próprio deve ser algo memorável.
Serrabulho
Para quem se sentia cansado era melhor deixarem-se de mariquices. A festa de encerramento estava a chegar.
Os Serrabulho, são um tesouro nacional, que todos devemos bem cuidar. Se nunca viram um concerto deles ainda não viveram, aquilo é uma festa incrível.
Intro feita pelo Rato do balas e bolinhos, espuma lançada e pit iniciado com “E pudesse eu cagar de outra forma”.
As bailarinas no palco completavam as coreografias e o público dançava. “Grind e grossa”, “Ela fez-me um grão de bico”, “Sweet grind of mine”, “Caguei na betoneira”, era só sucessos da rádio.
No final apoteótico a inevitável “Pubic hair in the glasses”. Uma grande festa dos nossos Ena Pá 2000 do grind e uma excelente forma de encerrar mais um festival.
Não prometia tanta qualidade como em outros anos, mas foi uma agradável surpresa esta mudança. Muito bons concertos, o ambiente é sempre espetacular. Continua a existir a sensação de que estamos numa reunião de amigos e para o ano lá estaremos, porque Vagos é aqui car#$%”!.
Recorde as noites anteriores de Vagos Metal Fest 2023:
– Trovões Metálicos Em Vagos: O Primeiro De Três Dias Com Bandas Lendárias
– O Segundo Dia Do Vagos Metal Fest Ficou Marcado Por Concertos Memoráveis
