A Fundação D. Luís I e a Câmara Municipal de Cascais apresentam a partir de hoje duas novas exposições na Casa das Histórias Paula Rego, as primeiras dedicadas à artista desde a sua morte.
As novas exposições Histórias de todos os dias. Paula Rego, anos 70 e “Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70” podem ser visitadas de 6 de novembro de 2022 a 21 de maio de 2023 na Casa das Histórias Paula Rego, numa iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais.
A primeira mostra: Histórias de todos os dias. Paula Rego, anos 70, vai ocupar as salas de 1 a 7 da Casa das Histórias Paula Rego, e pode ser vista até 21 de maio de 2023.
Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora da programação e conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a exposição reúne obras do período criativo da artista que se estende de 1969 até o final da década de 1970. Nesta fase, Paula Rego (1935 – 2022) produziu pinturas a partir do universo de contos de fadas e da tradição oral portuguesa, além de desenhos em que, numa linguagem visual onírica e fantástica, por vezes próxima do surrealismo, registou cenas do seu quotidiano e memórias infantis e familiares.
De entre as cerca de 115 obras em exposição, a que se soma documentação da época, o público poderá ver obras que integram as séries “Histórias de Todos os Dias”, que dá nome à exposição, “Os Amantes” e “Contos Tradicionais Portugueses”. A década de 1970, dentro do panorama da obra de Paula Rego, é caracterizada pelo experimentalismo formal e técnico, que estará na origem da construção do seu universo simbólico particular.
O desenvolvimento artístico de Paula Rego na década de 1970 refletiu os desafios de uma fase de renovação da arte portuguesa e a receção da crítica e do público à época confirmaram a sua obra como essencial na construção da contemporaneidade artística nacional. A mostra é acompanhada pela edição de um catálogo que integra um estudo das obras apresentadas e um ensaio sobre a “Receção crítica da obra de Paula Rego em Portugal nos Anos 1970”.
A segunda mostra intitula-se Paula Rego e Salette Tavares: Cartografias da Criatividade Feminina Nos Anos 70, e vai estar patente ao público na Sala 0, de 6 de novembro de 2022 a 21 de maio de 2023.
A mostra conta com curadoria de Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira, e propõe o cruzamento entre a obra de Paula Rego e a sua divulgação em Portugal na década de 1970, com a fundamental contribuição da escritora, poeta e artista Salette Tavares enquanto crítica de arte e curadora.
Paula Rego e Salette Tavares conheceram-se por volta de 1964. Além de amigas, como atestam as cartas que trocaram e as pinturas dedicadas e oferecidas por Rego a Tavares, também foram companheiras no mundo da arte e agentes na redefinição cultural e artística em Portugal ao longo dos anos de 1970. Salette Tavares desempenhou um papel muito importante na promoção da obra das artistas portuguesas naquela década e esta exposição, como observam as curadoras, “sublinha a sua relevante ação na aproximação do trabalho de Paula Rego junto do público português”. Uma das obras em exibição, “Dois lindos vestidos que a Salette deu à Paula, Fev. 1976”, é evidência da amizade e da cumplicidade entre a artista e a poetisa. No mesmo sentido, outra obra, “Armário, 1972”, traz a inscrição “Querida Salette aqui vai um armário cheio de coisas, com muitos parabéns da Paula”.
Assim, as obras reunidas nesta mostra revelam ao público como nos anos 70 a pintura de Paula Rego correspondeu ao “entusiasmo por uma arte experimental que desafiasse as narrativas cristalizadas pela ditadura”, ao passo que os textos que Salette Tavares produziu na altura, destacando o trabalho de artistas mulheres e em especial de Paula Rego, e a sua ação como presidente da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte, contribuíram para a promoção de novas políticas artísticas e culturais após a democratização do país.
A exposição é organizada no âmbito do projeto exploratório “Cartografias da criatividade feminina, 1974-1979”, financiado pelo Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, que tem como objetivo “dar visibilidade à intervenção das mulheres portuguesas no campo das artes, da crítica da arte e da curadoria, revelando-se como agentes na redefinição cultural e artística do país após a revolução de 1974”, pontuam Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira.
As exposições podem ser visitadas de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. Os bilhetes podem ser adquiridos no local e custam 5 euros.
