Home Música & Espectáculos Concertos Sofia Leão Apresentou Mar Com Delicadeza E Coragem Na Capela Do MACAM

Sofia Leão Apresentou Mar Com Delicadeza E Coragem Na Capela Do MACAM

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Sofia Leão

Numa estreia íntima e comovente, a jovem artista Sofia Leão revelou o universo sensorial do seu disco de estreia, entre camadas vocais, silêncios que falam e um olhar que procurava rostos familiares na plateia.

Sofia Leão deu dois concertos na Capela do MACAM, em Lisboa, para apresentar o seu álbum de estreia, Mar. Estivemos presentes na segunda data, a 3 de maio, e assistimos a um espetáculo onde a intimidade da música se encontrou com a beleza singular do espaço. A acústica da antiga capela, integrada no Museu de Arte Contemporânea Armando Martins, realçou cada pormenor — do sussurro à harmonia, do silêncio ao som. O cenário perfeito para um mergulho sensorial.

Com apenas 18 anos, Sofia Leão mostrou uma maturidade rara. A sua música constrói-se sobre vozes — muitas vozes — que se repetem, se cruzam, se completam. Há temas em que basta uma palavra, dita uma e outra vez, para criar um ambiente inteiro. Noutras canções, uma frase breve instala-se como um eco emocional. Entre piano e viola, Sofia conduz-nos por um território delicado, onde o tempo fica suspenso.

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O concerto abriu com “Pedra” e “Umineu”, duas composições que definem bem a estética do disco: melodias simples, cristalinas, vocais múltiplos e uma entrega discreta, mas intensa. “Queria agradecer ao MACAM, à Uguru e a todos os que estão aqui esta noite”, disse, num agradecimento breve mas sentido. O nervosismo da estreia não foi escondido, mas acabou por ser suavizado pela presença de muitos amigos, conhecidos e familiares, que lhe devolveram olhares cúmplices e emocionados.

Seguiram-se “Calma” e “Valsa”, esta última o primeiro single de Mar, com edição marcada ainda par o início deste mês. Ao vivo, “Valsa” confirmou-se como um dos pontos altos do repertório, com harmonias vocais a desdobrar-se como ondas. Há algo profundamente visual na música de Sofia: quase se veem as paisagens que ela desenha com a voz.

Em “Vino Dragostea” e “Fly Away”, a eletrónica etérea junta-se ao piano, num equilíbrio subtil. “Não seria tão triste”, com a participação de Bruno Silva na viola baixo, trouxe um tom mais melancólico e profundo — o tema foi lançado como segundo single há cerca de um mês.

A meio do alinhamento, escutaram-se “Não me conheço”, “Sem fim” e, depois, “Mar”, a faixa-título do disco. No álbum, este tema conta com a participação de Gabriel Gomes, no acordeão, mas ao vivo manteve o poder de envolvência com as vozes e o piano a comandar a emoção.

Foi no encore que a artista mostrou mais uma camada da sua identidade musical. Em “Vento sem fim”, interpretou um tema originalmente composto pelo pai — Rodrigo Leão —, com letra de João Pedro Diniz, também presente na sala. A revelação foi feita com humor por amigos: “Está aqui!”. O tema integra O Rapaz da Montanha, o mais recente trabalho do músico, lançado no final de abril. Já mais à vontade, Sofia percorreu a sala com o olhar e ofereceu o tema com naturalidade e leveza.

Seguiram-se “Fogo sobre a terra”, versão do tema de Toquinho e Vinícius de Moraes, e “Sombra da raiz”, uma ideia ainda em construção, nascida de improvisações partilhadas com o músico João Eleutério, que tocou baixo. A cumplicidade entre os dois prolongou-se em “Cão”, onde Sofia conseguiu fazer o público participar ativamente, sem perder a beleza do momento.

O concerto terminou com “Sou”, o tema que encerra o disco. A noite foi de revelação de uma voz nova e promissora no panorama musical português. Sofia Leão não recorre a grandes gestos nem precisa de artifícios. A sua força está na subtileza, na capacidade de sugerir mais do que de afirmar, de evocar mais do que de narrar.

Num cenário em que tantas estreias procuram impressionar, Sofia escolheu comover. E conseguiu.

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